Hoje em dia lemos histórias relacionadas com a “demissão por raiva” em tudo quanto é redes sociais. O seu impacto tem uma razão: no fundo, todos gostaríamos de ser assim tão corajosos. Há capturas de ecrã de conversas e memes que representam o que qualquer funcionário insatisfeito adoraria dizer ao seu chefe, juntamente com os inevitáveis monólogos: “Vou-me embora, já estou farto, vou procurar um emprego melhor”.
Mas… ainda não arranjou outro emprego? Desejamos-lhe sorte!
Despedir-se de um emprego sem ter outro em vista é o derradeiro “largar tudo” no local de trabalho e, surpreendentemente, nem sempre é a pior ideia, desde que saia com a sua reputação e os seus relacionamentos intactos. Se tiver ponderado devidamente os prós e os contras, sair primeiro e procurar depois poderá até ser o melhor.
Neste artigo, veremos como lidar com os pormenores práticos e decidir se uma atitude assim tão ousada é a mais indicada para si. O conselho de alguns especialistas em procura de emprego é o de nunca sair de um emprego antes de ter encontrado outro, mas a realidade é muito mais complexa. Não deve ser um tabu e pode até fazer sentido por várias razões. Vamos ver:
- Como as emoções podem influenciar as suas decisões
- 9 razões para se demitir antes de procurar emprego
- 8 riscos de se demitir sem ter outro emprego em vista
- Como equilibrar os riscos e benefícios de uma demissão espontânea
Não se apresse, leia bem e pondere cuidadosamente as palavras deste artigo. Informar o seu chefe de que se vai demitir do emprego sem ter um novo cargo poderá arruiná-lo. Ou poderá dar-lhe a liberdade de dar um grande passo na sua carreira.
Não deixe as suas emoções interferirem nas suas decisões
Se as motivações para se despedir forem claras, o passo seguinte é o timing. A partir do momento em que a sua cabeça começa a pensar em novos horizontes, corre o risco de deixar que as suas emoções dominem as suas decisões. Pensa em todo o tipo de cenários maravilhosos, deixando-se levar pela imaginação. Depois, acontece mais um desastre no trabalho e o seu dedo paira sobre o botão de envio do e-mail de demissão que tão cuidadosamente elaborou. Enquanto isso, o seu cérebro grita silenciosamente: “Vá lá, põe isto tudo para trás das costas. Já!! Hás-de encontrar outro emprego”.
É tentador ceder a todos estes pensamentos, mas tente manter a cabeça fria. Pense cuidadosamente na lógica de deixar o seu emprego sem ter outro à sua espera. Porque precisa de dar esse passo? Está em condições de o fazer? Preparou-se suficientemente para enfrentar a situação? Vai conseguir um desfecho melhor?
9 Razões para se demitir antes de procurar emprego
Se já refletiu o suficiente sobre o assunto e acha que chegou a hora de deixar o seu emprego sem ter outro à sua espera, saiba que não está só. Há muitas razões para alguém enviar aquela carta de demissão antes de conseguir um emprego novo; desde que se certifique de que minimiza os riscos, é uma opção muito viável.
Se é uma pessoa qualificada e sabe que existe uma procura no mercado para as suas competências, é apenas uma questão de tempo (e de muito esforço concentrado) até encontrar alguma coisa que se adequa a si.
Eis nove motivos que o podem levar a entregar antecipadamente a sua carta de despedimento:
1. Mais tempo para procurar emprego
A procura de emprego exige uma enorme quantidade de tempo e energia. Se se despedir antes de ter outro emprego, terá mais tempo para dar prioridade à sua atividade. Os problemas de conciliação entre o emprego e a procura de novo emprego podem também pesar sobre o candidato. Na pior das hipóteses, podem prejudicar o seu desempenho no trabalho.
Se a sua entidade patronal sentir que procura outro emprego porque está a tirar tempo para entrevistas, poderá ter problemas. Por vezes, uma rutura honesta e profissional é o melhor para todos.
2. Melhoria da saúde mental
Procurar uma nova função quando ainda se encontra num cargo stressante pode não ter bons resultados. Saindo de um ambiente de trabalho tóxico, vai sentir-se como uma nova pessoa no momento em que sair pela porta.
Se conseguir mitigar os riscos associados ao despedimento antes de ter uma nova função, a melhoria da sua saúde mental pode dar-lhe o impulso extra de que necessita para conseguir um emprego melhor. A procura de emprego é difícil, por isso, mobilizar a força mental necessária para se esforçar mais poderá fazer toda a diferença.
3. Quer fazer uma pausa
As licenças sabáticas e os intervalos na carreira são uma prática cada vez mais comum. Os recrutadores até veem com bons olhos uma pessoa que decidiu dar um tempo antes de considerar cuidadosamente o seu próximo passo. Se não tiver demasiadas lacunas no seu currículo ao longo da última década, dar a si próprio algum espaço para descansar pode ser uma boa ideia.
Se for esse o caso, pode escolher cuidadosamente o momento em que vai sair, de modo a causar o mínimo de perturbações ao seu anterior empregador e a garantir que sai em boas condições.
4. Compromissos externos
As circunstâncias da sua vida mudam num piscar de olhos. Algumas podem significar que já não está em condições de trabalhar para uma determinada entidade patronal. Se precisar de se demitir sem ter outro emprego em vista, não tenha medo. Qualquer entidade patronal decente compreende que esta situação é comum. O facto de ser vítima das circunstâncias não terá consequências negativas para si.
Quer esteja a mudar de casa a fim de acompanhar o seu parceiro que mudou de emprego ou caso necessite de um horário flexível para cuidar de um ente querido, não hesite em deixar o seu emprego se achar que é a coisa certa a fazer.
5. Preparou-se meticulosamente
Por vezes, estamos prontos. Num mundo ideal, deveria pensar e preparar tudo o que é necessário para procurar emprego, respeitar o período de pré-aviso (tendo em conta que irá a entrevistas) e, 6 a 8 semanas mais tarde, encontrar o emprego ideal.
Esta é a opção mais arriscada, mas se houver procura para o que tem para oferecer, não há razão para não resultar. Não se esqueça da preparação mental. Assim que entregar a carta de demissão, a pressão vai aumentar exponencialmente.
6. Antecipe-se ao abandono em massa
Se a empresa estiver à beira da falência e se vir que há sinais de fracasso, confie no seu instinto. Não há medalhas de participação por ser o último a abandonar um navio a afundar-se. Também é provável que a sua entidade patronal não seja a única com dificuldades no seu ramo de atividade.
Se conseguir identificar uma via de emprego mais segura, demitir-se antecipadamente sem ter outro emprego em vista pode ser uma ótima forma de maximizar a sua presença no mercado e construir relações de qualidade com os recrutadores. Talvez seja melhor demitir-se antes de ser despedido, mesmo que renuncie a alguma indemnização por despedimento, o que lhe dará uma vantagem fundamental na sua procura de emprego.
7. Estudar para uma mudança de carreira
Por vezes não é possível começar imediatamente numa nova carreira, pelo que um período com um emprego flexível em paralelo com os estudos é uma forma comum de fazer a transição. É praticamente impossível conciliar os estudos com um emprego a tempo inteiro, pelo que desistir com o objetivo de conseguir um emprego após um período de estudos é uma excelente forma de mostrar o quanto está dedicado ao seu futuro caminho.
Claro que aprender no trabalho é fantástico, mas não há nada como se perder nos livros e munir-se das qualificações que lhe permitirão destacar-se.
8. Está a pensar começar um novo negócio
Embora haja certas coisas que pode fazer para desenvolver uma atividade secundária antes de se lançar por conta própria, muitos contratos de trabalho contêm elementos restritivos que podem impedi-lo de iniciar o seu próprio negócio.
Começar algo novo é um grande empreendimento, mas se acredita na sua visão, então tem de tentar tudo para ter sucesso nesses primeiros meses cruciais. Provavelmente, não o conseguirá fazer se ainda estiver ligado a uma entidade patronal anterior.
9. Razões pessoais: não precisa dizer mais
Apesar de os compromissos externos poderem ser um motivo, por vezes há razões pessoais que começam a pesar de tal forma que o obrigam a fazer uma mudança imediata. Embora possa não querer discuti-las numa futura entrevista (e possa provavelmente inventar uma, desculpa), por vezes deixar um emprego é exatamente aquilo de que precisa.
Preservar as relações e restabelecer a harmonia entre a vida profissional e a vida pessoal só é possível, por vezes, com uma despedida definitiva. Ponha-se a si e aos seus entes queridos em primeiro lugar, que é como deve ser. Em breve conseguirá um novo emprego, mas poderá não ter outra oportunidade de reparar uma relação.
3 Riscos de se demitir sem ter outro emprego em vista
É inevitável o esforço mental adicional que representa o facto de deixar o seu emprego sem ter outro em vista. Não é possível saber como vai correr a procura de emprego (até as ofertas de emprego podem desaparecer de um dia para o outro), pelo que encarar o vazio profissional durante algum tempo é um pouco assustador.
Além disso, se conseguir lidar com a perda imediata de colegas que o apoiam, já é mais forte do que a maioria. Terá de contar não só com a sua rede de apoio pessoal, mas também com a sua confiança em si próprio. No fundo, apenas se pode demitir se souber que vai triunfar.
Dito isto, existem três riscos muito concretos que não podem ser ignorados com uma atitude positiva. Não terá o seu salário no fim do mês, perderá o seu seguro de saúde profissional e outros benefícios que possa ter, e terá uma lacuna (crescente) no seu currículo, que os futuros empregadores podem muito bem considerar. Vejamos estes três riscos um pouco mais em pormenor.
1. Inexistência de rendimentos
Ao preparar-se para uma procura de emprego, as preocupações financeiras estarão em primeiro plano. Tem de ser realista quanto à forma como se vai sustentar sem um salário mensal. As indemnizações por despedimento diminuem de forma assustadoramente rápida, por isso, certifique-se de que tem uma margem de manobra mais do que suficiente para afastar quaisquer preocupações financeiras.
Não vai querer encontrar-se numa situação em que sente que tem de aceitar um emprego só porque está a ficar sem dinheiro. Isso contraria o objetivo de deixar o seu emprego anterior mais cedo. Seis meses de despesas devem ser suficientes, juntamente com um plano de emergência que lhe permita poupar dinheiro.
2. Perda de cuidados de saúde
Se vive num país onde o seguro de saúde está ligado ao seu emprego, demitir-se significa que provavelmente perderá esses benefícios. Dependendo das suas disposições contratuais, os cuidados de saúde podem prolongar-se durante algum tempo após a sua saída, mas isso está longe de ser garantido, que poderá ser uma razão importante para que algumas pessoas queiram manter o seu emprego atual antes de encontrarem outro.
Existem outras regalias, como o carro da empresa e vários subsídios, que também lhe farão falta. Pense no panorama geral se deixar o seu emprego sem ter outro em vista. Que alterações isso traria à sua vida?
3. Lacunas no seu currículo
Imagine que demora 4 a 5 meses a encontrar um novo emprego. Isto pode ser bom em termos das suas perspetivas a curto prazo, mas é uma lacuna suficientemente significativa para ser notada num currículo de qualquer empregador daqui a alguns anos. Estas lacunas são mais normais para profissionais mais experientes, mas se está no início da sua carreira, isto pode levantar algumas questões.
Alguns recrutadores podem ter um preconceito inconsciente em relação a transições de emprego ou lacunas na carreira. Se não estiver empregado durante um determinado período de tempo, tem de ser capaz de explicar o motivo.
Como equilibrar o risco e os benefícios de uma demissão espontânea
Deixar um cargo sem ter outro emprego à sua espera nunca (jamais) será uma decisão fácil. Não pode prever o futuro e quem sabe o que pode acontecer para arruinar os seus melhores planos
Pergunte a si próprio as questões difíceis. O que vai ganhar ao dar este passo arrojado? Se o pior cenário se concretizar, como vai lidar com ele? Convencer-se de que tudo se vai resolver de alguma forma não é uma opção que o ajude a dormir bem à noite. Sente-se, escreva as considerações fundamentais de ambos os lados deste processo e veja qual a sua posição. Faça isto pelo menos três vezes antes de enviar “o derradeiro email”: tem o dever de garantir a sua segurança.
Conclusões principais
Como qualquer outra decisão na vida, se der este passo pelas razões certas, estará a reduzir os riscos de arrependimento no futuro. Não pode controlar tudo, mas se estiver disposto a trabalhar arduamente e a seguir um plano sólido, então terá todas as probabilidades de sucesso.
- Tenha consciência do impacto das suas emoções nas suas decisões.
- Analise as suas razões para sair sem um novo emprego.
- Seja honesto sobre os riscos práticos que irá enfrentar.
- Mentalize-se que não é a única pessoa a fazer isto.